Jeanmary Lugo González
Departamento de Literatura Comparada
Facultad de Humanidades
Resumen:
O beijo no Asfalto é uma obra de teatro de 1960 escrita pelo dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. A peça apresenta a história de Arandir, um homem casado com Selminha, seu amor de infância. Um dia ele está na rua com o sogro e vê um homem atropelado. Nesse momento, Arandir corre e, ajoelhando-se, beija o homem na boca. Esse ato converte o Arandir, de um sujeito anônimo, num sujeito do interesse público. A sociedade deixa de vê-lo como sujeito e o transforma num monstro. O texto apresenta a sociedade, a polícia e a imprensa jogando um papel de criadores de decadência. Portanto, proponho analisar como é apresentado aquele que é diferente, “o outro”, e como é transformado num monstro através dos preconceitos sociais. Para trabalhar com a monstruosidade utilizarei o texto teórico “Monster Theory (Seven Theses)” de Jeffrey Jerome Cohen onde se expõe que nossos monstros são criados por nós.
Palabras claves: Nelson Rodrigues, drama brasileiro, Jeffrey Jerome Cohen
Resumen:
O beijo no Asfalto es una obra de teatro escrita en 1960 por el dramaturgo brasileño Nelson Rodrigues. La pieza presenta la historia de Arandir, un hombre casado con Selminha, su amor de infancia. Un día él estaba en la carretera con el suegro y ve un hombre atropellado. En ese momento, Arandir corre, se arrodilla y besa al hombre en la boca. Ese acto convierte a Arandir, de un sujeto anónimo, a un sujeto del interés público. La sociedad deja de verlo como un sujeto y lo transforma en un monstruo. El texto revela la sociedad, la policía y la prensa jugando un papel de creadores de decadencia. Por tanto, propongo analizar cómo es presentado aquel que es diferente, “el otro”, y cómo es transformado en un monstruo a través de los preconceptos sociales. Para trabajar con la monstruosidad utilizaré el texto teórico “Monster Theory (Seven Theses)” de Jeffrey Jerome Cohen donde se expone que nuestros monstruos son creados por nosotros.
Palabras claves: Nelson Rodrigues, teatro brasileño, Jeffrey Jerome Cohen
Abstract:
O beijo no Asfalto is a play written in the 1960’s by Brazilian playwright Nelson Rodrigues. This play tells the story of Arandir, a man married to Selminha, the love of his life. One day walking with his father-in-law he sees a man that was ran over. Immediately, Arandir ran, kneels and kisses the man in the mouth. This act transforms Arandir from an anonymous man to one that is of interest to society. Suddenly, society stops seeing him as a person and transform him into a monster. The text presents society, the police and the press playing the role of the creators of decadence. Thus, I propose to analyze how the one that is different, “the other”, is presented and how he is transformed into a monster by the way of social preconceptions. To work with the “monstrosity” concept the theoretical text “Monster Theory (Seven Theses)” by Jeffrey Jerome Cohen will be used, which argues that our monsters are created by ourselves.
Keywords: Nelson Rodrigues, Brazilian theater, Jeffrey Jerome Cohen
A obra de teatro O beijo no asfalto foi escrita pelo brasileiro de Recife Nelson Rodrigues. Escrita em 1960, foi apresentada pela Sociedade Teatro dos Sete em 7 de julho de 1961 no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro. No texto observo um julgamento da ação da personagem principal, Arandir, que beijou um homem na rua. Portanto, proponho analisar como o que é diferente, o outro, é apresentado como um monstro através dos preconceitos da sociedade. Eu utilizarei como texto teórico “Monster Culture (Seven Theses)” de Jeffrey Jerome Cohen para trabalhar com o estudo cultural do monstro. Primeiro, farei um breve resumo da obra de teatro com algumas observações gerais da sociedade e sua resposta ao beijo. Depois, apresentarei algumas ideias específicas do texto “Monster Culture (Seven Theses)” de J.J. Cohen. Finalmente, proporei algumas conclusões sobre a apresentação da monstruosidade no texto O beijo no asfalto e a pertinência da obra na atualidade.
A peça de teatro O beijo no asfalto apresenta a história da personagem de Arandir. Casado faz quase um ano, ele e a esposa dele, Selminha, conhecem-se desde crianças. Por isso, Selminha tem una grande confiança nele. No início, a obra apresenta a família feliz de Arandir. Ao começo, o protagonista somente é conhecido na comunidade dele. Tudo muda quando Arandir beija na boca um homem que estava morrendo na rua. Arandir estava com o sogro dele porque iam para a Caixa Econômica, Porém, encontram esse homem atropelado na rua. Arandir corre e, ajoelhando-se, o beija. Esse ato muda a vida dele. Toda a sociedade observa a vida de Arandir; ele passa do anonimato ao interesse público. No texto é possível observar a influência da polícia como instituição de poder trabalhando para o benefício pessoal e não para o bem da comunidade. Na peça, isso também acontece com a imprensa. A vizinhança também julga e rejeita o protagonista. Dona Matilde, vizinha deles, é apresentada no texto como uma fofoqueira. Ela vai para a casa de Selminha e leva o jornal que tem na manchete “O beijo no asfalto”. A esposa de Arandir não acredita o que diz o jornal. Nesse instante diz dona Matilde: “Esse jornal é muito escandaloso!” (42). A declaração dela não provoca nenhuma mudança na percepção social. Mesmo conhecendo a maneira de atuar do jornal, este continuou tendo uma influência direta sobre a mentalidade da sociedade. Podemos ver dona Matilde como uma representação do cidadão comum enquanto o jornal reforça os preconceitos sociais apresentando à sociedade uma imagem monstruosa do ato de Arandir.
Monster Culture (Seven Theses) desenvolve algumas teses importantes para compreender a cultura do monstro através do estudo cultural. Nos diversos países, culturas e sociedades há uma visão sobre o outro. Para J.J. Cohen a cultura do monstro é uma cultura criada por nós. O tema da monstruosidade é una referência relevante para explicar como caracterizamos as coisas que não são parecidas a nós. Um exemplo que é apresentado neste texto teórico de Cohen é a percepção que se tem das pessoas negras escravizadas ao vê-las diferentes e inferiores do resto (10). Acredito que a monstruosidade está relacionada com a obra de teatro de Rodrigues pelo juízo que a sociedade faz sobre o Arandir transformando-o num ser inferior ou num monstro. Vejamos alguns exemplos da minha observação no texto.
Quando Arandir está em seu trabalho os companheiros dele falam com ele dizendo “Viúvo de atropelado! Ou viúva! Beijou o sujeito na boca. O sujeito morreu. É a viuvez. Batata!” (46-47). Eles criam uma imagem inferior de Arandir pelo ato dele. Nessa sociedade foi um ato de desaprovação e o interessante é que por isso Arandir se apresenta como um sujeito inferior. Todo esse pensamento é patrocinado pela manchete mostrando uma informação falsa que não é objetiva. O jornal cria uma história para cumprir desejos de policiais e jornalistas corruptos. Aliás, a polícia reforça o preconceito geral chantageando a viúva do morto. Os companheiros de trabalho e os vizinhos de Arandir perdem o respeito por ele; já não o veem como sujeito. Como resultado do seu ato, ele passa de sujeito a monstro.
These monsters ask us how we perceive the world, and how we have misrepresented that we have attempted to place. [...] They ask us why we have created them (Cohen 20).
Um sujeito, um ato, um repórter, um beijo, foi o que mudou a vida de Arandir. O repórter colocou na manchete do jornal a história para ajudar o policial. Mas a sociedade expressou a sua diferença através da sua superioridade frente ao Arandir. A sociedade acreditou na opinião da imprensa que também não trabalhava para o bem-estar comum.
Portanto, muitas vezes, nas sociedades “a diferença” é apresentada como um monstro. A influência dos jornais quando não são objetivos é prejudicial na formação da opinião pública. O outro é um sujeito criado por nós mesmos para diferenciá-lo de nós. Sem julgar o ato de Arandir como bom ou mau, o texto é pertinente porque podemos analisar a maneira em que nós nos aproximamos ao outro. Como nós tratamos os preconceitos atualmente? Os muçulmanos são terroristas, os cristãos são homofóbicos, os ateus são demônios? Muitas vezes, lutando por nossas causas fazemos o mesmo, tratamos como inferior o que é diferente de nós. Mas não estar de acordo não significa que alguém seja inferior ou superior. Por isso, nós mesmos criamos nossos próprios monstros, para julgar e tentar distanciar-nos do que é diferente de nós.
Referência
Cohen, J.J. “Monster Theory (Seven Theses)”. Monster Culture: Reading Culture. Minneapolis, Minnesota UP, 1996. Impreso.
Rodrigues, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1995. Impreso.
Revista [IN]Genios, Volumen 1, Número 2 (febrero, 2015).
ISSN#: 2324-2747
Universidad de Puerto Rico, Río Piedras
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